PESCA

No relevo campestre, o mestre,
estouvado de Hefesto, com um gesto
avizinha-se de um lago silvestre.
Seu rosto se mostra testo.
Cético, mãos de médico, apossa-se do cajado
e nele uma cortesia é pendurada.

Busca com ânsia o velho uma laia.
Esperaria por ela séculos junto de Gaia.
Não rara, não colossal, mas excepcional.
Única, portentosa, endogênica, miraculosa.
Para ele, esplendorosa!
Quem dera ela soubesse da importância continental!

A oferenda é, por vezes, puxada em vão.
Anima-se em cada vez o mestre assim.
E por que não?
Um fio tão diabólico quanto o fim.
Técnicas arcaicas e artifícios conhecidos,
um grande clichê, mas está à mercê.

Como separar um pescado de um cardume?
Como tirar de uma mãe um filho?
Como fissar a partilha do ciúme?
Como não desistir e fisgar qualquer estribilho?
Como pode alguém cativá-lo nesse volume?
Como não sê-lo assim um empecilho?

Iludido, incompreendido, indefinido, por dentro corroído.
O mestre já não vê esperanças.
Se porventura um êxito, bem sucedido,
Um aspecto positivo, cheio de mudanças,
se assentisse, sentisse um consentimento obtido,
valeria o risco de rodar o molinete da lança?


E se a jogasse por inteira à água?
Seria o velho menos mestre agora?
E se a mantivesse lá, tornar-se-ia mágoa?
Seria uma chance jogada fora?
E se fez imóvel, estável, inabalável.
Seria, talvez, uma forma de sensatez e lucidez.


A conservação sem vazão envolveu-o.
Tornou-o O mestre, o pensador celeste.
Como mágica, ilógica, a lúdico transcendeu-o
Não era, todavia, a única que o fizeste.
Apolo e Crono, assessores e trabalhadores,
num sol nascente, acenderam um coração crescente.


Fisgou meticulosamente.
A isca transmutara para o peixe,
que visualizava agora o final na mente.
No breu, obscuro e puro, rasgou-se um feixe.
No coração, emoção, motivação e pulsação.
No músculo, vínculo, oráculo, um espetáculo!


Saiu o mestre, por ora, vencedor da batalha.
Triunfo oriundo do fundo de seu submundo.
Aquele peixe era sua mortalha!
E era seu. Um sentimento profundo.
O carbono que define o diamante.
Uma abertura que exigiu um selante.


Num descuido, a vitória teve sua alforria.
Um fluido seria uma boa alegoria.
O peixe, que outrora fora seu, voltou à monotonia.
Pertence agora à água, aos outros peixes, à sua própria cosmologia.
O mestre, que outrora vangloriara-se, voltou ao prelúdio.
Pertence agora a angústias e mágoas, ao repúdio.


O retorno para águas próximas ao velho era,
para o peixe, um futuro inevitável.
A dúvida súbita mudou. Pudera!
Fisgaria novamente a cortesia o ser amável?
Ou tornar-se-ia a tentação eterna
para o mestre neste relevo campestre?